quinta-feira, 1 de março de 2012

Capítulo Oito - Teu passado te condena


                Assustei-me com o que o velho poderia me contar. O que seria tão importante a respeito dos arcanjos que eu não sabia? Bem o jeito era ficar ouvindo.
                - Tudo bem, vá em frente – disse
                - É o que pretendo, vamos direto ao ponto.
                - Espere. Primeiro, eu preciso saber com quem estou falando. Ainda não sei se posso confiar em uma palavra que você diz. Isso poderia muito bem ser outra armadilha, ambos sabemos que você gosta de enganar as pessoas.
                - Eu não recomendo apresentações, devemos ser o mais breve possível, digamos que eu não sou exatamente “deste mundo” então não posso ficar muito tempo aqui.                          
                - Ótimo, pra mim fechou.
                - Então, como eu lhe dizia, há algo sobre os arcanjos que você precisa muito saber. Eles não estão exatamente lhe enviando para uma missão.
                - Calma aí. Eles não vão me matar, vão?
                - Não é o que pretendem, pelo menos, não agora. Essa “missão” é apenas um teste através do qual, eles pretendem descobrir se você ainda tem todos os seus poderes.
                - Poderes? Mas eu pensei que não fosse nada. Não tenho nenhum poder, sou apenas um camponês inútil.  
                - É aí que você se engana. E eles sabem muito bem disso. Você tem habilidades inimagináveis.             
                - E posso te perguntar como você sabe disso?
                - Bem, digamos que “seu passado te condena”, esse talvez seja o motivo para os arcanjos estarem atrás de você.
                - Mas o que de tão ruim eu fiz no meu passado?
                - Garoto, não me diga que não se lembra de nada.
                - Pois é exatamente isso que eu te digo, não me lembro de nada sobre meu passado, nada antes do dia em que acordei.
                - Eu adoraria explicar, mas vai ficar pra outro dia, se é que nos veremos novamente.
                - Mas por que não nos veríamos?
                - Eles me encontraram. Eles estão aqui.
                E a imagem do homem sumiu do outro lado do circulo de terra. Escalei as paredes até chegar ao topo, observando de cima, aquilo parecia um antigo poço, porem estava totalmente seco, o que me levou a pensar que aquilo havia sido escavado propositalmente para que alguém caísse. No que? Uma armadilha? Segui caminho. Sem mais atrasos, de preferência. Era o que eu pensava, pelo menos. Apenas alguns metros adiante, vi algumas marcas no capim. Pareciam ter sido feitas por um animal, um animal grande. Um tigre? Um leão? Não, não havia leões e tigres naquela região. O que existiam ali eram apenas cervos, coelhos, lobos e cobras. Aquilo não poderia ter sido feito por uma cobra poderia? Mas ela devia ter pelo menos uns 30cm de diâmetro, e eu nem queria imaginar qual seu comprimento.
                Prossegui. Quando a noite caiu, eu ainda estava na floresta. Meus cálculos estavam errados. Aquela floresta era muito maior do que eu imaginara.          O único problema, é que eu não estava preparado para acampar num lugar desses. Não podia dormir no chão, não depois do que eu vira antes. Decidi subir em uma arvore. Mas em qual? Todas ali tinham pelo menos uns 10 metros de altura. Sem graça, uma escalada fácil demais.
                Subi com destreza sob o tronco de um eucalipto, e me acomodei em um dos galhos mais baixos, era bem resistente e bem largo, o que me daria certo privilegio, porem, conforto nota 3,5. Aquela noite foi horrível. Sonhei a noite inteira, não sei como não caí da arvore, de tanto que me mexia. Acho que “alguém” não queria que eu morresse. Não ali. Quando acordei, desci rapidamente da planta e me pus em pé, examinando o chão. Minhas preocupações se mostraram reais. Aquele “algo” havia passado por ali de novo, e dessa vez teria dormido os meus pés. Continuei a procurar indícios de sua presença quando o Sol sumiu, mas ele sumiu só ao meu redor. Uma sombra? Sim, “aquilo” estava ali, nas minhas costas, bloqueando o Sol, só esperando o momento certo para me engolir com apenas uma bocada. Acho que a mesma pessoa que não me deixou cair daquela arvore me pregara uma peça.